viernes, 1 de junio de 2012

Maior expedição portuguesa à Antártida: Os cientistas que vieram do frio



Cientistas com uma bandeira do agrupamento de escolas Finisterra na expedição científica à Antártida
A ciência polar portuguesa reforçou a sua presença nas redes internacionais para o estudo da Antártida ao assumir pela primeira vez uma missão de caráter logístico que garantiu no terreno o transporte de 70 pessoas, entre cientistas e técnicos.
Um avião fretado pelo Programa Polar Português (PROPOLAR), no âmbito de um projeto financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), assegurou a ligação entre o Chile e a Antártida a membros de equipas de diversas nacionalidades. A viagem, de ida e volta, realizou-se a 26 de janeiro último.
“Até aqui os cientistas portugueses participavam nestas campanhas internacionais apenas como convidados”. Esta última missão marcou a estreia de Portugal na vertente organizacional, explicou à FCT Newsletter Gonçalo Vieira, investigador em Geografia Física e membro do comité de coordenação do PROPOLAR.
De acordo com o mesmo responsável, este novo posicionamento tem um retorno significativo ao nível da própria atividade científica nacional, traduzindo-se no fortalecimento de convénios e no fomento de colaborações internacionais ao mais alto nível. A operação logística portuguesa traduziu-se, em particular, numa maior proximidade às comunidades científicas da Argentina, Brasil, Bulgária, Chile, Coreia do Sul, Espanha, Polónia e Uruguai.
No mesmo sentido pronunciou-se o biólogo marinho José Xavier, notando que a integração em campanhas internacionais permite aos cientistas polares portugueses trabalhar lado a lado “com os melhores do mundo” em áreas de estudo que resultam extremamente valorizadas pela recolha de dados in loco, como é o caso das ciências biológicas, da criosfera e do ambiente.
Gonçalo Vieira e José Xavier fizeram parte do grupo de vinte cientistas de instituições nacionais que participaram na mais recente campanha internacional de investigação na Antártida, decorrida entre novembro de 2011 e abril último. Em matéria de recursos humanos envolvidos, esta foi a maior expedição polar portuguesa realizada até à data.
Enquadrados num total de 7 projetos, os cientistas foram chegando e partindo em momentos diferentes, segundo os seus calendários de pesquisa. Cada missão durou entre 3 a 6 semanas. As equipas nacionais incluíram investigadores da Argentina, Brasil, Canadá, Espanha, Estados Unidos da América e Suíça.
Agora, regressados a Portugal, é o momento de prosseguirem em laboratório, ao longo dos próximos meses, com a análise dos dados recolhidos no terreno, nomeadamente sangue, penas (no caso dos estudos sobre os pinguins, por exemplo) ou amostras de sedimentos (disciplinas das ciências da Terra).
Colónia de pinguins na Antártida
A Península Antártica é uma das regiões onde a subida da temperatura do ar foi maior desde 1950, o que a torna extremamente relevante para o estudo das alterações climáticas, questão indiscutivelmente central na agenda científica mundial, e que por sua vez se relaciona com fenómenos como o degelo, o buraco do ozono, o aquecimento do solo e a acidificação dos oceanos.
A relevância científica das regiões polares prende-se sobretudo com o facto de as alterações climáticas aí ocorrerem com maior intensidade. A mudança do estado da água é um dos indicadores preponderantes, na medida que a congelação da água do Mar só ocorre com uma temperatura de pelo menos dois graus Celsius negativos.
Por outro lado, a grande exigência do clima permite a observação e recolha de dados em condições privilegiadas, tanto no que se refere ao comportamento adaptativo das espécies animais como da vegetação. A Antártida é a mais fria região polar, sendo considerada uma espécie de “refrigerador” do planeta, dado que regula a temperatura dos oceanos.
“Muitos dos estudos em curso incidem sobre aspetos que nos permitem estimar o que poderá acontecer à escala global”, frisou José Xavier.
Todas estas razões explicam o esforço financeiro que diversos países têm feito para tornar possível a deslocação e a permanência de cientistas no terreno. A dureza das condições meteorológicas, as características da paisagem e a localização geográfica extremada agravam as despesas associadas a estas campanhas, a nível de transporte e de sobrevivência no local.
Investigadores portugueses a realizar trabalho de campo
Manter um investigador numa base na Antártida custa uma média de 800 euros por dia, investimento suportado pelos países que são nossos parceiros científicos, especificou Gonçalo Vieira. Também por este motivo, reveste-se de especial significado o contributo efetivo que Portugal deu enfim para o desenvolvimento da ciência polar à escala global, assegurando uma das várias ligações aéreas calendarizadas.
A campanha Propolar 2011-2012 integrou investigadores do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, CERENA – Instituto Superior Técnico, Centro de Geofísica da Universidade de Évora, IPIMAR e Instituto do Mar da Universidade de Coimbra.
Para apresentação provisória dos resultados científicos alcançados ao longo deste última expedição à Antártida realiza-se em outubro deste ano, em Lisboa, a 4ª Conferência Portuguesa das Ciências Polares, evento que permitirá aos investigadores cruzar os dados relativos a cada um dos sete projetos que integram o PROPOLAR.
Entretanto, já no próximo dia 11 de Junho, ao final da tarde, os cientistas portugueses envolvidos na campanha participam numa sessão pública que terá lugar na sede do Instituto Hidrográfico.
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